Quantas vezes já presenciamos cenas como essa: um funcionário pintando as guias da rua e outros dois parados, só observando. E um quarto funcionário também olhando, tomando anotações ou falando ao celular.
Quatro pessoas, sendo apenas uma fazendo o trabalho esperado?
Talvez um deles seja o motorista, o outro aquele que coloca os cones de segurança na rua e o quarto, bem, esse é o fiscal.
Tão comum que à primeira vista parece normal. Um caso simples da lógica da ineficiência brasileira. Se optou por contratar pessoas com qualificações limitadas e, para garantir que o trabalho fique a contento, é necessária a presença do fiscal.
Em países desenvolvidos um único profissional receberia treinamento, capacitação para fazer todo o serviço, equipamentos de última geração para facilitar seu trabalho, saberia claramente suas responsabilidades e seria cobrado por seus resultados. E é claro, seria um profissional completo e motivado, principalmente porque seu salário seria equivalente a todo esse contexto.
A motivação do funcionário faria com que ele pensasse em melhorar sua rotina de trabalho, seus procedimentos, contribuindo para o ciclo virtuoso da eficiência.
Estamos longe dessa realidade.
E na área de projetos da construção civil?
Aqui no Brasil estamos como o pintor de guias brasileiro.
Qualquer cliente de porte precisa contratar fiscalização de projetos para garantir que os mesmos sejam desenvolvidos a contento.
Porque é necessária a fiscalização?
Porque os projetos não são desenvolvidos como esperado, prazos não são cumpridos, normas não são obedecidas, o escopo não é atendido.
E porque muitos dos projetos desenvolvidos tem tão baixa qualidade?
Vamos ver alguns motivos:
– Métodos para seleção de empresas. Clientes particulares contratam projetos como bem entenderem. Na esfera pública temos leis muito defasadas como a 8.666, mas ficou pior com a RDC, criada pelo Governo Federal. De qualquer forma, o método de seleção de empresas projetistas deve possuir mecanismos para avaliar a capacidade técnica e gerencial das empresas. O preço deve ser o último item a ser avaliado, até mesmo porque os conselhos de classe estabelecem valores médios para cada serviço.
– Impunidade. Erros de projeto devem ser denunciados aos respectivos conselhos (CAU e CREA), além das vias jurídicas. Os culpados devem ressarcir os prejuízos gerados e correr o risco de não exercer mais a profissão.
– Formação. Com a massificação do ensino superior, as universidades passam valioso tempo tentando corrigir deficiências provenientes do ensino fundamental e médio, principalmente daqueles alunos vindos da escola pública. Com isso, é menos tempo para a formação do profissional, gerando enorme desequilíbrio entre os formandos. Ou seja, profissionais pouco qualificados no mercado. Que tal um “exame da ordem” para engenheiros e arquitetos?
Estamos em 2016. Globalização, acesso à informação. Incomoda demais situações onde é nítida a falta de vontade de melhorar, evoluir, de se tornar mais eficiente.
A ineficiência e a falta de vontade também te incomodam? Numa aula sobre Ética Kantiana, o prof. Dr. Clóvis de Barros Filho fala um pouco sobre isso, sobre ter brio.