Gestão do quê?

Se para muitas pessoas entender do que trata o Gerenciamento ou a Gestão de Projetos é tarefa complicada, para os arquitetos é muito mais difícil. E eu explico por que.

Os arquitetos passam todos os anos de sua formação e tantos outros de vida profissional elaborando projetos arquitetônicos, consolidando essa ideia de projeto como “os desenhos que viabilizam uma ideia de construção ou a própria construção”, e aprendendo que outras áreas como estrutura, hidráulica e elétrica também tem seus respectivos projetos para o mesmo fim, com relação direta e complementar ao projeto de arquitetura.

Na Gestão de Projetos, o” Projeto” não é somente aquilo que os arquitetos aprenderam. O Projeto, nesse caso, pode ser o lançamento de um foguete, o desenvolvimento de um novo modelo de celular, aprender chinês ou até mesmo um empreendimento imobiliário. Temos aí um problema de semântica que dificulta o entendimento da atividade de Gestão de Projetos.

Segundo o PMBOK(1): “projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único.” E ainda: “Gerenciamento de Projetos é a aplicação do conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto para atender aos seus requisitos.”

Esses conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas para o Gerenciamento de Projetos não é ensinado na Faculdade de Arquitetura. Na verdade esse assunto nem é abordado.

O resultado disso é a falha de interpretação que vemos em muitas empresas de Arquitetura: costuma-se eleger as atividades de coordenação como se fossem de gestão. Até mesmo as atividades de compatibilização são confundidas com a gestão. Nos dois casos fica patente a vontade de transformar alguma atividade técnica conhecida, familiar à formação do arquiteto, para resolver a lacuna da gestão. Essa é a grande falha.

A falta do profissional em Gestão de Projetos, seja ele com dedicação exclusiva a esse assunto, seja um arquiteto da empresa que seja capacitado nas ferramentas e técnicas e que dedique parte de seu tempo a essa atividade, faz com que os diversos contratos das empresas de Arquitetura fiquem à deriva, com processos e controles frouxos, contratos com prazos vencidos, prejuízos financeiros e desentendimentos com clientes.

De tanto ver esse tipo de situação fica fácil identificar as empresas que precisam de um Gerente ou Gestor de Projetos. Geralmente as perguntas abaixo, respondidas negativamente, demonstram essa necessidade:

– No início de qualquer trabalho, são identificadas todas as partes interessadas (envolvidos no trabalho) e levantados e documentados todos os requisitos (solicitações e expectativas)?

– Todas as atividades desse trabalho são levantadas em detalhe e com elas é formado um cronograma realista com a ciência de todos os envolvidos?

– É elaborado um plano de monitoramento para controlar o desenvolvimento dos trabalhos, principalmente dos parceiros?

– É desenvolvido um “plano B” para ser acionado no caso de algum problema durante a elaboração dessas atividades?

– Existe um profissional determinado para conferir se todos os requisitos estão sendo atendidos e se o cronograma está sendo seguido?

A montagem de equipes para desenvolver Projetos (serviços, produtos ou atividades) é tendência mundial. Cada vez mais o formato de empresa tradicional com os funcionários fixos, plano de carreira, salario, etc. é substituído por contratos com equipes de vida útil pré-definida, que termina quando da entrega dos serviços. É interessante notar como os serviços de projeto de arquitetura e engenharias se encaixam perfeitamente nessa situação, por se tratarem justamente de atividades temporárias.

O conhecimento existe e está disponível. Existem profissionais capacitados para isso. Basta reconhecer o problema e ter vontade de mudar.

SP-17/06/2016

Nota 1: “PMBOK” citado no texto é o Project Management Body of Knowledge, conjunto de práticas na gestão de projetos organizado pelo PMI – Project Management Institute.

Nota 2: os termos de gerenciamento de projetos utilizados neste artigo são aqueles constantes no PMBOK, com adaptações do autor.

Nota 3: artigo publicado no LinkedIn e blog do autor em flaviohadlich.com

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